Confronto de estilos ofensivos na final – Como atacam franceses e argentinos

Em vésperas da final do Campeonato do Mundo, será claramente tentador reduzir este duelo às duas grandes estrelas que vão pisar o relvado do Lusail Stadium: os companheiros de equipa Lionel Messi e Kylian Mbappé. A verdade é que apesar da componente tática deste jogo poder vir a incluir muito mais variáveis que os dois astros, ambos (pela sua influência no modelo de jogo das respetivas ou não) representam um pouco daquilo que são as diferenças entre as duas equipas na abordagem ofensiva ao jogo: de um lado um jogo de constante mobilidade, ritmo mais pausado/associativo e apoios interiores próximos e do outro a constante ameaça à profundidade exterior, jogo de corredores muito agressivo e verticalidade/velocidade no 1×1. Assim sendo, vamos neste artigo olhar um pouco para os últimos dois encontros de cada equipa para compreender um pouco melhor como se comportam no momento de organização ofensiva.

Argentina, mobilidade e associação

  • vs. Holanda: estrutura com 3 centrais, em 1-3-5-2 com meio-campo em 1+2 e largura total dada pelos dois alas (Acuña e Molina). Muita mobilidade e jogo de apoios principalmente do lado direito em que o ponta desse lado (Messi), pelas suas características, realizava invariavelmente movimentos de apoio para criar superioridades em espaço curto juntamente com De Paul, Molina e Enzo. Do lado esquerdo, Alvarez acaba por ser um ponta mais de profundidade e Mac Allister pode-se manter mais posicional dentro do bloco no half-space esquerdo. Isto gerava então muitas situações de combinações curtas pelo lado direito que resultavam em enquadramentos para variação para lado contrário (para Mac Allister ou Acuña) ou para profundidade direta do ponta esquerdo.
  • vs. Croácia: estrutura a 2 centrais, em 1-4-3-3 com meio-campo em 1+2 e com os laterais a continuarem a dar a largura total sozinhos (mas com invariavelmente os dois interiores a darem cobertura ofensiva ou sendo linha de passe intermédia entre central e lateral). Os dois jogadores que jogavam atrás do ponta, Messi e Mac Allister, mais uma vez com características para colocarem muito o apoio interior, colocando praticamente 5 jogadores em corredor central, forçando mais uma vez combinações curtas e superioridades próximas para enquadrar à procura de Álvarez.

França, verticalidade e profundidade

  • vs. Inglaterra: estrutura de saída em 2+1 com os dois laterais baixos e os dois extremos posicionados na largura e profundidade máxima (onde são altamente agressivos no 1v1 de fora para dentro quando a bola entra no pé – muitas vezes graças ao apoio frontal de Giroud que consegue segurar e tocar fora – ou no ataque à profundidade). No corredor central, Tchouaméni assume a posição “6” e Griezmann posicionava-se quase sempre em apoio no half-space direito, funcionando praticamente como interior direito (3º médio) e conferindo à equipa uma dinâmica de 1-4-3-3 mais clássico com meio-campo em 1+2.
  • vs. Marrocos: algumas diferenças (possivelmente também devido às características do bloco marroquino), com Hernandez a dar mais profundidade pelo corredor e Mbappé a ir dentro com mais regularidade, assimetricamente ao lado direito onde Koundé se mantinha mais baixo e Dembelé fazia todo o corredor. Por dentro, Griezmann apesar de ainda colocar alguns apoios interiores no half-space direito, funcionou mais como segundo ponta fazendo até alguns movimentos curtos de ataque à profundidade.
Sobre Juan Román Riquelme 97 artigos
Analista de performance em contexto de formação e de seniores. Fanático pela sinergia: análise - treino - jogo. Contacto: riquelme.lateralesquerdo@gmail.com

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